quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

ALFA

A cada aurora a barbárie se desloca do mais profundo abismo e vem tomar café comigo, com seu sorriso irônico e desmedido apresenta todos seus argumentos para justificar suas práticas desumanas.

Entre um gole e outro de café me calei durante anos, não porque tinha medo ou receio de questionar todos seus disparates, mas por puro comodismo. Sim um comodismo covarde e egoísta, que consumiu o resto da minha anêmica humanidade.

Sei que tenho uma parcela de culpa em tudo o que acontece no insano mundo em que vivemos, pode me culpar e cobrar com juros a parte que me cabe, porém existem razões lógicas que explicam meu comportamento. É sobre tais razões que (também) gostaria de dissertar, não para justificar meu descaso, tão pouco para me tornar mais um herói cego viciado, mas para compreender o próprio vazio de ser do mundo contemporâneo.

Afirmei que existem razões lógicas que explicam o comportamento do humano em questão, no entanto são as práticas ilógicas que devem ser investigadas com muito cuidado. Sanabria e o mundo non-sense busca desvendar no não-sentido o sentido, e subverter o sentido no não-sentido. É claro que não pretendo desenvolver mais uma dicotomia ortodoxa entre sentido e não-sentido, cobiço desvelar a simbiose nuclear do processo.

Contudo, antes de concluir meu primeiro texto, peço desculpas pelo linguajar academicista e formal. Mas como sabem, sou mais um elemento do nosso cruel sistema educacional que, com um refinado instrumental de controle contempla com alegria a lobotomia diária. Diante desse procedimento terapêutico invisível, tento iniciar aqui meu antídoto para obtenção da cura, a exposição facial. Uma ruptura com o formalismo da escrita em terceira pessoa; um singelo gesto frente a todos os mecanismos de dominação, no entanto, um gesto para o tão sonhado efeito dominó.

Essa breve apresentação do que pretendo com este espaço virtual, não impossibilita ou imobiliza outras práticas reflexivas, apenas norteia o caminho a ser trilhado. Com as palavras de Tom Zé, encerro minha primeira exposição. “Eu tô te explicando prá te confundir; eu tô te confundindo prá te esclarecer; tô iluminado prá poder cegar; tô ficando cego prá poder guiar...”.